Ganhar neném vs ter bebé
Minha Caixa é Portuguesa e hoje moro no Brasil. E hoje trago uma reflexão sobre a maternidade, mais especificamente sobre o nascimento de um bebé.
Morei quase toda a minha vida em Portugal e a expressão que sempre ouvi das mães e pais quando um bebé nasce é “Vou ter um bebé”.
Hoje estando grávida e morando no Brasil, precisei adentrar no mundo da maternidade neste país. E uma coisa que me chamou a atenção é como as mães falam desse mesmo momento como “ganhar neném”.
Ouvir esta expressão “ganhar neném” me deixou com um sorriso de orelha a orelha e durante uma bela manhã me veio uma reflexão importante sobre estas duas formas de ver o nascimento de um novo Ser neste mundo.
Será que a expressão “Ter um bebé” não é demasiado patriarcal? Não vos parece que tratar um Ser como propriedade privada de outro alguém (mesmo que esse alguém tenho sido quem gerou vida) é demasiado arrogante?
Por outro lado, “ganhar neném” me faz sentir mais comtemplada, pois eu penso que fui agraciada pelo Universo por poder gerar esta vida que carrego já há 8 meses. E saber que este novo ser é um presente de algo muito maior que eu, algo extraordinário, me faz pensar que estou mesmo ganhando algo. Um neném para cuidar, acompanhar, educar, ver crescer e quando ele chegar a adulto, saber que ele não precisará mais de mim, mas que o amor nos une, independentemente dos meus desejos, expectativas ou projeções em relação a ele.
Ganhar neném abre espaço para o milagre da vida acontecer, com toda a magia que esse momento pede. E a intensidade também, afinal é um momento natural, selvagem, visceral e onde tudo pode acontecer. Já a expressão ter um bebé, remete-me a uma compra. Parece que fui ali na esquina, a uma loja e comprei algo que escolhi de forma racional e intelectual, excluindo toda a magia e empoderamento desse momento.
A mulher é a protagonista do parto e é o seu corpo que faz acontecer, junto com o bebé a magia do nascimento. O parir um ser…para o mundo!
Onde fica a magia quando compramos algo numa loja? E ainda mais se for dessas lojas em que tudo está em promoção porque vem de trabalho escravo?
Adentrando no parto humanizado
Quando comecei a investigar o tipo de parto que queria, descobri que parto natural é coisa rara no Brasil e no mundo, cada vez mais. Parece que querer ter um parto natural é algo sobrenatural, de mulheres muito corajosas e só algumas conseguem.
Mas será que é assim? Não é de estranhar que os nossos corpos não venham preparados para algo tão natural como dar à luz?
Na jornada de investigação descobri tantas coisas, tantas quantas as múltiplas crenças que carrego no meu corpo sobre conceber, gestar, parir e amamentar. E cada um destes tópicos dá um livro inteiro.
Não é a toa que a Cultura Moderna tenha chegado também à “industrialização” dos partos. O capitalismo e o patriarcado tomaram conta de um evento onde a mulher era a protagonista, no seu maior poder e força, para passar a ser um evento cirúrgico onde o médico é quem manda e sabe tudo. Onde a mulher passa por violências que nem sabe que são violências e os novos seres chegam ao mundo de forma tão abrupta e desumana que passam as suas vidas à procura de amor e daquilo que não tiveram na sua primeira infância. E desta forma, impossibilitados de se tornarem pessoas adultas e responsáveis por ainda estarem a viver nas “faltas” que tiveram durante toda a infância. Em resumo, vivem de emoções do passado, em vez de viverem no presente, com seus sentimentos.
E a pergunta que faço é, queremos mesmo ter bebés acorrentados ao passado e aprisionados como se de propriedades se tratassem ou queremos ganhar novos seres humanos capazes de virem transformar este mundo?
Eu quero a segunda opção e vou fazer o possível para que isso aconteça!